O curso Gestalt e Saúde veio ao encontro de um movimento que eu havia iniciado para a descoberta das formas que tenho delineado na minha história. Meios que encontrei para estar no mundo e que foram experienciados e corporificados em mim, como um registro de quem eu sou.
Há
muito havia me negado a ouvir o que meu corpo falava. Na verdade, não me
lembrava de, em algum momento, tê-lo compreendido. Não o percebia em suas
tentativas de se comunicar. Às vezes, algo me parecia como murmúrios e tão logo
reduzia a minha percepção como se fora apenas uma dor em nível orgânico e,
portanto, nada tinha a dizer.
Foi
então que me deparei, na primeira vez, com meu estomago e nós conversamos. Ele
mostrou o quanto me conhecia, já que está comigo a minha vida inteira. Ainda
que não tivesse me dado conta do seu trabalho, não reconhecesse sua função, ele
estava ali, dizendo de seu funcionamento e de mim. Surpreendente!
Aos
poucos me acordaram novos sentidos, ou ainda, os sentidos que desde sempre
estiveram comigo, mas eu não os permitia sentir, não permitia essa abertura
para o mundo. Não apenas estava alienada dessa percepção rica e sensível do
mundo, mas de toda potencialidade de sentir a mim.
Voltei a sentir cada parte, até então
adormecida. Estive alheia ao meu corpo como se fosse outro alguém. Como se eu
fosse alguém sem corpo. Nesses diálogos, comecei a estabelecer uma relação com
meu corpo. Comecei a prestar atenção, senti-lo vivo, sentir- me mais viva.
Nesse
movimento, pude presentificar meu corpo e ser todo ele, inteira. Diz Rubem
Alves (2005, p. 31) que:
Quaisquer que sejam as realidades que me atingem,
nada sei sobre elas em si mesmas. Só as conheço como reverberações do meu
corpo. Os limites do meu corpo denotam os limites do meu mundo. Porque vejo as
estrelas poderei dizer, com Bergson, que o meu corpo vai até elas.
Vivenciei o
curso Gestalt e saúde como um encontro esperado, bonito, de pessoas adoráveis,
que construíram além da compreensão dos pressupostos da gestalt-terapia e da
metodologia do “diálogo com o corpo”, mas uma experiência de campo emocionante,
linda, quase misteriosa.
As
possibilidades que se enunciaram a partir do curso Gestalt e saúde, a partir
desse olhar mais ampliado acerca dos processos da saúde e da doença se dão pelo
reconhecimento dessa linguagem tão própria do corpo. Como um instrumento
genuíno que vem auxiliar a outrem a decifrar sua linguagem, mas, antes, como
uma maneira de presentificarmos nossos próprios recursos para operar em nós e
no mundo.
É um exercício: buscar
estar atenta a esses dizeres do meu corpo, contudo não me parecem mais
murmúrios, mas melodias, como em uma CORPOESIA.*2
Josemara F. Veras
Garcia*3
REFERÊNCIA:
ALVES, Rubem. Variações sobre a vida e a morte ou O feitiço erótico- herético da teologia. São Paulo, Ed. Loyola, 2005.
* Gestalt e Saúde: Psicologia das doenças somáticas, curso agora renomeado para Corpo e Saúde: Psicologia das doenças somáticas.
ALVES, Rubem. Variações sobre a vida e a morte ou O feitiço erótico- herético da teologia. São Paulo, Ed. Loyola, 2005.
* Gestalt e Saúde: Psicologia das doenças somáticas, curso agora renomeado para Corpo e Saúde: Psicologia das doenças somáticas.
*2 Trabalho de conclusão do curso Gestalt e Saúde.
*3 Estudante de Psicologia e aluna do curso Gestalt e Saúde: Psicologia das doenças somáticas em 2012, turma COPOESIA.
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