domingo, 14 de abril de 2013

Existências Possíveis





Antes do curso*, eu nunca tinha tido contato com a Gestalt-Terapia, apenas com alguns conceitos da Psicologia da Gestalt. E, logo no início, um dos aspectos que me fascinou foi a possibilidade de fluidez entre os vários ajustamentos – psicose, neurose/evitativo e ético, político e antropológico (correspondendo, essa fluidez, ao conceito de saúde). Isso propõe uma mudança radical; configura-se como um novo paradigma. Qualifico como um conhecimento valioso que tem em si um potencial tremendo, pois oferece novas perspectivas, um novo olhar ao estigmatizante conceito de psicose, segundo o enfoque biomédico (no qual se inserem a Psiquiatria e os manuais de classificação de doenças). Enquanto o modelo biomédico diz tachativo, “incurável”, ou “crônico”, podemos ver e entender outras milhares de possibilidades de existência... Condiz com alguns ditos populares: “Ninguém é louco o tempo todo” e ainda “De perto, ninguém é normal”.

Outro aspecto que quero ressaltar aqui, e que tem me ajudado muito na prática clínica, é o olhar para o aqui-e-agora das sessões, e o enfoque nas formas que se repetem, e não no conteúdo. Quando a forma é pontuada, parece que o cliente/consulente leva um “chacoalhão”, e amplia seu autoconhecimento. Começa, aí, a possibilidade de mudança, através da autopercepção, do dar-se conta, para, assim, criar algo novo. É no aqui-e-agora, na relação terapêutica que se percebe o conceito de campo. O campo pode ser entendido enquanto configuração, na qual todas as funções do sistema self estão atuando (id, ato e personalidade). A relação consulente-terapeuta passa a ser o elemento fundamental do processo. A relação terapêutica é, antes de mais nada, um encontro pessoal! E neste encontro está todo seu potencial! Cabe ressaltar que a ferramenta principal do terapeuta é seu próprio corpo; ele vai pautar seu agir pelo que sente diante da relação terapêutica, diante do encontro com seu consulente.

Um conhecimento que tem provocado uma mudança no meu modo de entender o processo saúde-doença é o de que “o ajustamento é um ato criativo para o organismo se autorregular; é o melhor jeito que o organismo tem para se adaptar ao meio”, “são formas de como o organismo consegue lidar com as demandas do seu entorno social”. Isso tem cada vez mais me saltado aos olhos na minha prática clínica: o quanto os sintomas (avisando) ou mesmo as doenças somáticas (revelando, evidenciando) são a melhor forma de o organismo entrar em equilíbrio diante de determinadas circunstâncias externas e internas (jeito de ser, características de personalidade). É preciso “entender que cuidar da saúde não é lutar contra nada, nem ainda contra a doença. É conhecer o que somos e aceitar limites e possibilidades. A doença possibilita almejar outras possibilidades de configuração de existência”.
Com base nesse novo paradigma da saúde, no processo saúde-doença, ou mesmo para entender as mensagens de nosso corpo, passa a ser imprescindível a integração entre as polaridades. **


Angelita Zamberlan Nedel***

*Gestalt e saúde: Psicologia das doenças somáticas.
**Trecho do trabalho de concusao do Curso: Gestalt e Saúde- Psicologia das doenças somáticas.
**Psicóloga e Aluna do Curso Gestalt e Saúde (2012, turma CORPOESIA).

- Estamos abrindo novas turmas para o curso em 2014! Mais informações neste link! 

2 comentários:

  1. Excelente texto. Realmente a Gestalt-terapia nos possibilita um olhar amplo de possibilidades em qualquer que seja o conteúdo. Que esses conteúdos se mostrem como essência sem a necessidade de serem rotulados e resumidos.

    Esse trecho em específico é fascinante: - É preciso “entender que cuidar da saúde não é lutar contra nada, nem ainda contra a doença. É conhecer o que somos e aceitar limites e possibilidades. A doença possibilita almejar outras possibilidades de configuração de existência” -

    Parabéns pelo blog.

    Bom dia.

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  2. Incrível seu texto, parabéns! Não sou da área e achei super compreensível! Muito bom. iuana

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