Antes do curso*, eu nunca tinha tido contato com a Gestalt-Terapia, apenas
com alguns conceitos da Psicologia da Gestalt. E, logo no início, um dos aspectos
que me fascinou foi a possibilidade de fluidez entre os vários ajustamentos –
psicose, neurose/evitativo e ético, político e antropológico (correspondendo,
essa fluidez, ao conceito de saúde). Isso propõe uma mudança radical;
configura-se como um novo paradigma. Qualifico como um conhecimento valioso que
tem em si um potencial tremendo, pois oferece novas perspectivas, um novo olhar
ao estigmatizante conceito de psicose, segundo o enfoque biomédico (no qual se
inserem a Psiquiatria e os manuais de classificação de doenças). Enquanto o
modelo biomédico diz tachativo, “incurável”, ou “crônico”, podemos ver e
entender outras milhares de possibilidades de existência... Condiz com alguns
ditos populares: “Ninguém é louco o tempo todo” e ainda “De perto, ninguém é
normal”.
Outro aspecto que quero ressaltar aqui, e que tem me ajudado muito na
prática clínica, é o olhar para o aqui-e-agora das sessões, e o enfoque nas
formas que se repetem, e não no conteúdo. Quando a forma é pontuada, parece que
o cliente/consulente leva um “chacoalhão”, e amplia seu autoconhecimento.
Começa, aí, a possibilidade de mudança, através da autopercepção, do dar-se
conta, para, assim, criar algo novo. É no aqui-e-agora, na relação terapêutica
que se percebe o conceito de campo. O campo pode ser entendido enquanto
configuração, na qual todas as funções do sistema self estão atuando (id,
ato e personalidade). A relação consulente-terapeuta passa a ser o elemento
fundamental do processo. A relação terapêutica é, antes de mais nada, um encontro
pessoal! E neste encontro está todo seu potencial! Cabe ressaltar que a
ferramenta principal do terapeuta é seu próprio corpo; ele vai pautar seu agir
pelo que sente diante da relação terapêutica, diante do encontro com seu
consulente.
Um conhecimento que tem provocado uma mudança no meu modo de entender o
processo saúde-doença é o de que “o ajustamento é um ato criativo para o
organismo se autorregular; é o melhor jeito que o organismo tem para se adaptar
ao meio”, “são formas de como o organismo consegue lidar com as demandas do seu
entorno social”. Isso tem cada vez mais me saltado aos olhos na minha prática
clínica: o quanto os sintomas (avisando) ou mesmo as doenças somáticas
(revelando, evidenciando) são a melhor forma de o organismo entrar em equilíbrio
diante de determinadas circunstâncias externas e internas (jeito de ser,
características de personalidade). É preciso “entender que cuidar da
saúde não é lutar contra nada, nem ainda contra a doença. É conhecer o que
somos e aceitar limites e possibilidades. A doença possibilita almejar outras
possibilidades de configuração de existência”.
Com base nesse novo paradigma da saúde, no processo saúde-doença, ou
mesmo para entender as mensagens de nosso corpo, passa a ser imprescindível a
integração entre as polaridades. **
Angelita Zamberlan Nedel***
*Gestalt e saúde: Psicologia das doenças somáticas.
**Trecho do trabalho de concusao do Curso: Gestalt e Saúde- Psicologia das doenças somáticas.
**Psicóloga e Aluna do Curso Gestalt e Saúde (2012, turma CORPOESIA).
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Excelente texto. Realmente a Gestalt-terapia nos possibilita um olhar amplo de possibilidades em qualquer que seja o conteúdo. Que esses conteúdos se mostrem como essência sem a necessidade de serem rotulados e resumidos.
ResponderExcluirEsse trecho em específico é fascinante: - É preciso “entender que cuidar da saúde não é lutar contra nada, nem ainda contra a doença. É conhecer o que somos e aceitar limites e possibilidades. A doença possibilita almejar outras possibilidades de configuração de existência” -
Parabéns pelo blog.
Bom dia.
Incrível seu texto, parabéns! Não sou da área e achei super compreensível! Muito bom. iuana
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