Perls, um dos responsáveis pelo surgimento da Gestalt-terapia, trouxe em
sua célebre frase: “Lose your mind and come to your senses” a essência do que
pretendo discutir aqui neste momento.
A noção de corpo tem sido modificada ao longo da história da humanidade
e a idéia mais arraigada que ainda perdura na atualidade é o corpo cartesiano,
fragmentado, separado. O corpo versus
mente. Corpomente. O corpo não mente.
Há alguns anos, por meio de reflexões e experiências pessoais, suspeito
e duvido dessa condição dualista. O cotidiano, no entanto, bem como todo um
ranço cultural, volta e meia, pregam peças até mesmo em quem racionalmente
compreende que não é possível separar mente/corpo, corpo/sentimento,
corpo/sentidos. E aqui entra o divisor de águas em minha vida: conhecer, por
meio do olhar fenomenológico trazido pela Nina e Ana Carol*1, as idéias e propostas
de Nana Schnake de viver o corpo de modo integrado, a começar pela própria vida
até a prática da clínica gestáltica.
A título de curiosidade, nota-se que, no parágrafo acima, escrevi uma
frase dualista: “...pregam peças em quem racionalmente compreende que não é
possível separar mente/corpo...”. Se não é possível separar mente e corpo, a
compreensão vai além do racional. A compreensão é pensada em nosso córtex
cerebral e sentida em cada célula de nosso corpo de modo inteiro. Os
gestaltistas da primeira geração intuíam isso, mesmo caindo em contradição ao
tentar transformar o objeto intencional identificado por Husserl em experimento
de laboratório, naturalizando-o, portanto. O todo é maior do que a soma das
partes: o corpo funciona de modo integral, sendo este maior que a soma de seus
órgãos e afins.
“Perca sua cabeça e recupere seus sentidos”... cada um dos sentidos
humanos é um canal de comunicação e de limite entre o corpo humano e o mundo/
outrem. Dar voz e vida às partes do corpo, permitindo um diálogo entre o todo e
as partes, promove a experiência de ampliar a percepção de si de cada pessoa,
bem como aprender com o funcionamento fisiológico de nossos órgãos. Essa é a
proposta de Adriana Schnake ao se inspirar na técnica da cadeira vazia para
criar seu método de trabalho com as partes do corpo e as doenças.
Tal como Perls concebia cada parte do sonho como expressão de nós
próprios e de nossos desejos, Nana Schnake trouxe a compreensão visceral de que
cada parte do corpo revela o todo de maneira diferenciada. Dessa forma, eu sou
minha língua, sou meu coração, sou meu estômago, sou meu útero, sou meu fígado,
sou meu sistema imunológico e por aí vai... Experimentar ludicamente de olhos
bem fechados ser cada uma das partes do corpo, ao conhecer sua funcionalidade
genuína e quebrar paradigmas equivocados sobre o mesmo, traz a sensação ao
sujeito que se propõe a experimentar isso de uma integralidade e
plenitude. *2
Raquel Guedes Pimentel*3
*1 Ana Carolina Seara e Maria Balbina Gappmayer- Coordenadoras do curso Gestalt e Saúde.
*2 Trecho do trabalho de conclusão do curso: Gestalt e Saúde: Psicologia das Doenças Somáticas, realizado em 2012.
*3 Psicóloga, Gestalt-terapeuta e coordenadora do Núcleo Ampliar (raquel@nucleoampliar.com.br).
*2 Trecho do trabalho de conclusão do curso: Gestalt e Saúde: Psicologia das Doenças Somáticas, realizado em 2012.
*3 Psicóloga, Gestalt-terapeuta e coordenadora do Núcleo Ampliar (raquel@nucleoampliar.com.br).
Referências:
PERLS, F. 1942. Ego, Fome e Agressão. São Paulo: Summus,
2002.
PERLS, F., HEFFERLINE, R., GOODMAN, P. 1951. Gestalt-Terapia. São Paulo: Summus, 1997.
SCHNAKE, Adriana . 2007. Enfermedad, sintoma y caráter: diálogos gestálticos con el cuerpo. Buenos Aires: Del Nuevo Extremo: Cuatro Vientos.
SCHNAKE SILVA, Adriana . 2001. La Voz Del Síntoma. Santiago do Chile: Editorial Cuatro Vientos.
SCHNAKE, Adriana . 1995. Los diálogos del cuerpo. Santiago do Chile: Editorial Cuatro Vientos.
PERLS, F., HEFFERLINE, R., GOODMAN, P. 1951. Gestalt-Terapia. São Paulo: Summus, 1997.
SCHNAKE, Adriana . 2007. Enfermedad, sintoma y caráter: diálogos gestálticos con el cuerpo. Buenos Aires: Del Nuevo Extremo: Cuatro Vientos.
SCHNAKE SILVA, Adriana . 2001. La Voz Del Síntoma. Santiago do Chile: Editorial Cuatro Vientos.
SCHNAKE, Adriana . 1995. Los diálogos del cuerpo. Santiago do Chile: Editorial Cuatro Vientos.
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