segunda-feira, 31 de março de 2014

Reconciliação corporal

  
Com o olhar da Gestalt, dentro do enfoque holístico e dos estudos das clínicas da inclusão e neurose, da teoria do self e num enfoque fenomenológico (sem buscar a verdade ou a mentira, mas a forma da verdade ou da mentira, esta que não podemos esconder e por isso torna-se algo compartilhável), é que, no Curso Corpo e Saúde, a partir da própria experiência, houve a possibilidade de ampliar o “perceber-nos” daquilo que não nos damos conta.

Para isso foi realizado um trabalho vivencial de diálogos com o corpo como forma de obter informações relevantes sobre nós mesmos, provenientes do nosso corpo. Em (Enfermedad, síntoma y caráter), Adriana Schnake  (2012) relata que, nestes diálogos, nos damos conta de quão incrível pode ser a escuta de uma pessoa para com seu órgão ou a parte que lhe dói e a leva a aceitar aspectos até então rejeitados de si mesma.

A partir deste experimento, podemos nos apropriar do nosso corpo, como um “fazer as pazes” com partes de nós mesmos, que nos parecem fazer tanto sofrer. A possibilidade de entrar em contato, conhecer, ouvir nosso corpo, e também saber que nos ouve sobre o que pensamos e sentimos dele, nos permite pela via do afeto obter informações emocionais importantes sobre nós mesmos.

Foi-nos apresentado um trabalho único e original de contato com os sintomas, cujo sentido é provocar processos de auto-observação, conduzidos por um terapeuta. Levando esta técnica aprendida pela experiência pessoal, para o trabalho na clínica, constatamos que, a partir do corpo, o consulente ganha acesso a experiências emocionais e pode construir compreensão sobre ele mesmo, seu funcionamento, suas características tanto fisiológicas, quanto de personalidade. Depoimentos de ausência ou alívio de sintomas são acompanhados da alegria da novidade vivida.

 É possível olhar para o próprio corpo de forma a experimentá-lo na primeira pessoa. A técnica ajuda a perceber que somos o nosso corpo e conforme fala Adriana Schnake (2012: 26), nosso corpo não deveria ser afetado por nossos desejos ou por nossos pensamentos, no entanto sabemos que isso acontece por serem eles parte de nós, parte do mundo em que vivemos, desenvolvendo nossas capacidades e destrezas para nos adaptarmos a um mundo que nós mesmos vamos criando.

Corpo e Saúde é o curso que me permite dizer que o que aprendemos é também um exercício de “reconciliação com nós mesmos através do nosso corpo”. Sim, pois nos damos conta de que, com paciência, generosidade e amor, recuperar essa unidade é uma possibilidade para nós humanos.

 “Cura: é quando a gente pega a doença no colo pergunta o que ela tem, a gente a deixa falar e presta muita atenção. E, quando ela termina, já não há nada mais para curar.”
Autor desconhecido
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Adeli Maria Branco Sousa**

* Trecho do trabalho de conclusão do curso CORPO E SAÚDE: Psicologia das doenças somáticas (2013).
** Psicóloga, Especializanda em Gestalt-terapia e aluna do Curso CORPO E SAÚDE: Psicologia das doenças somáticas. (2013, turma Viscerar-te)
 
Referências bibliográficas:

SCHNAKE, Adriana Nana.  Enfermedad, Síntoma y Carácter: diálogos gestálticos con el cuerpo. 1. Ed. Chile. Cuatro Vientos, 2012

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