quarta-feira, 15 de maio de 2013

O início, o fim e o meio




O que me motiva a estudar, dentro da Psicologia,  a respeito de saúde e adoecimento? Para responder a essa pergunta, vou fazer o caminho inverso, do fim para o início. Depois de suportar mais de 10 anos de dores generalizadas pelo corpo, de recorrer a inúmeros tratamentos que envolvem o uso analgésicos, antiflamatórios, antidepressivos, da participação em projetos ampliados de saúde, ouço o relato de uma consulente, algumas semanas depois de um trabalho realizado com base no enfoque de saúde e doença (desenvolvido pela Dra. Adriana Schnake- médica e Gestalt-terapeuta chilena): “depois daquele dia, as dores sumiram, fiquei mais atenta ao meu corpo, tentando respeitá-lo mais, não ultrapassando meus limites. Entendi que estava exigindo demais dele. Isso me ajudou muito, apesar de algumas vezes esquecer e voltar a agir como agia antes comigo. É aí que as dores voltam, então me recordo que tenho que me dar conta de como estou vivendo.”


Este é apenas um dos tantos relatos que ouvimos regularmente ao trabalhar com essa perspectiva de trabalho. Possibilitar que as pessoas desenvolvam uma nova relação com seu corpo, favorecer a ocorrência de insights (dar-se conta) são fundamentais para que um novo olhar se desenvolva. E, com esse olhar, duas coisas costumam acontecer: as pessoas deixam de brigar com os órgãos que estão adoecendo e começam a se fascinar ao descobrir e conhecer mais acerca disso que é parte delas. Poder participar desse re-descobrimento e acompanhar a emoção  presente nesse processo é algo fantástico, emocionante, compensador de todo o esforço que empreendemos para trazer esse trabalho do Chile para o Brasil!

Talvez este não seja o fim da história, como citei acima, mas é o ponto até onde já chegamos. Nossos anos de trabalho com adoecimento, seguidos do nosso investimento ao ir para o Chile, de junho a dezembro de 2011, para a Formação em Saúde e Doença nos possibilitou a criação do curso: CORPO E SAÚDE: Psicologia das doenças somáticas*.Nele unimos todo o desenvolvimento que fizemos nessa área e nossos estudos decorrentes de trabalhos reconhecidos internacionalmente (como o Enfoque Holístico da saúde e da doença e os estudos relativos à Clínica da Inclusão). Paralelo a isso,  estivemos em congressos Internacionais para os quais levamos nossos trabalhos (Piriápolis- Uruguay, em 2011; Foz do Iguaçu-Paraná, em 2012; como convidadas em Lima- Peru, em 2012, e agora, no final de maio de 2013, estaremos em Cartagena, na Colômbia, para apresentar mais um trabalho - Consciência e Cuerpo, una mirada para el sufrimiento humano). Isso, sem citar os eventos nacionais e regionais, todo o trabalho diário na clínica (individualmente e com grupos) e o trabalho de abrir espaços para se conversar sobre o tema (presencialmente com os projetos aqui em nosso Instituto e virtualmente com a criação dos blogs e grupos nas redes sociais). Enfim, um trabalho que demanda muito, mas que, ao vermos os frutos dessa caminhada, compensa todo o cansaço e esforço, porque é realizado com afeto!

Não podemos ensinar alguém a cuidar de seu corpo se não utilizarmos a via do afeto, fazer isso com amor. E o primeiro amor, deveria ser o amor-próprio. O amor por nós mesmos, ao nosso corpo e todas as possibilidades que ele nos permite. Quem descobre esse amor, não o abandona nunca, porque sabe (e sente!) que, se tivermos amor por nós mesmos, podemos estar mais inteiros: nas relações,  ao realizarmos nosso trabalho, ao nos relacionarmos com quem nos cerca. Tão simples e tão complexo. Mas se há algo que me move, é isso: poder compartilhar tudo aquilo que já aprendi a esse respeito!

*Últimas vagas para o Curso Corpo e saúde: Psicologia das doenças somáticas, que inicia em 18 e 19 de maio de 2013.



Ana Carolina Seara**


**Formada há 10 anos em Psicologia (UFSC). Mestre em Psicologia e  Gestalt-terapeuta. Faz parte do corpo clínico do Instituto Müller-Granzotto.



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