O que me motiva a estudar, dentro
da Psicologia, a respeito de saúde e
adoecimento? Para responder a essa pergunta, vou fazer o caminho inverso, do
fim para o início. Depois de suportar mais de 10 anos de dores generalizadas
pelo corpo, de recorrer a inúmeros tratamentos que envolvem o uso analgésicos,
antiflamatórios, antidepressivos, da participação em projetos ampliados de
saúde, ouço o relato de uma consulente, algumas semanas depois de um trabalho
realizado com base no enfoque de saúde e doença (desenvolvido pela Dra. Adriana
Schnake- médica e Gestalt-terapeuta chilena): “depois daquele dia, as dores
sumiram, fiquei mais atenta ao meu corpo, tentando respeitá-lo mais, não
ultrapassando meus limites. Entendi que estava exigindo demais dele. Isso me
ajudou muito, apesar de algumas vezes esquecer e voltar a agir como agia antes
comigo. É aí que as dores voltam, então me recordo que tenho que me dar conta de
como estou vivendo.”
Este é apenas um dos tantos
relatos que ouvimos regularmente ao trabalhar com essa perspectiva de trabalho.
Possibilitar que as pessoas desenvolvam uma nova relação com seu corpo,
favorecer a ocorrência de insights
(dar-se conta) são fundamentais para que um novo olhar se desenvolva. E, com
esse olhar, duas coisas costumam acontecer: as pessoas deixam de brigar com os
órgãos que estão adoecendo e começam a se fascinar ao descobrir e conhecer mais
acerca disso que é parte delas. Poder participar desse re-descobrimento e acompanhar
a emoção presente nesse processo é algo
fantástico, emocionante, compensador de todo o esforço que empreendemos para
trazer esse trabalho do Chile para o Brasil!
Talvez este não seja o fim da
história, como citei acima, mas é o ponto até onde já chegamos. Nossos anos de
trabalho com adoecimento, seguidos do nosso investimento ao ir para o Chile, de
junho a dezembro de 2011, para a Formação em Saúde e Doença nos possibilitou a
criação do curso: CORPO E SAÚDE: Psicologia das doenças somáticas*.Nele unimos
todo o desenvolvimento que fizemos nessa área e nossos estudos decorrentes de
trabalhos reconhecidos internacionalmente (como o Enfoque Holístico da saúde e
da doença e os estudos relativos à Clínica da Inclusão). Paralelo a isso, estivemos em congressos Internacionais para os
quais levamos nossos trabalhos (Piriápolis- Uruguay, em 2011; Foz do Iguaçu-Paraná,
em 2012; como convidadas em Lima- Peru, em 2012, e agora, no final de maio de
2013, estaremos em Cartagena, na Colômbia, para apresentar mais um trabalho - Consciência e Cuerpo, una mirada para el
sufrimiento humano). Isso, sem citar os eventos nacionais e regionais, todo
o trabalho diário na clínica (individualmente e com grupos) e o trabalho de
abrir espaços para se conversar sobre o tema (presencialmente com os projetos
aqui em nosso Instituto e virtualmente com a criação dos blogs e grupos nas redes sociais). Enfim, um trabalho que demanda
muito, mas que, ao vermos os frutos dessa caminhada, compensa todo o cansaço e
esforço, porque é realizado com afeto!
Não podemos ensinar alguém a
cuidar de seu corpo se não utilizarmos a via do afeto, fazer isso com amor. E o
primeiro amor, deveria ser o amor-próprio. O amor por nós mesmos, ao nosso
corpo e todas as possibilidades que ele nos permite. Quem descobre esse amor,
não o abandona nunca, porque sabe (e sente!) que, se tivermos amor por nós mesmos, podemos
estar mais inteiros: nas relações, ao
realizarmos nosso trabalho, ao nos relacionarmos com quem nos cerca. Tão
simples e tão complexo. Mas se há algo que me move, é isso: poder compartilhar
tudo aquilo que já aprendi a esse respeito!
*Últimas vagas para o Curso Corpo e saúde: Psicologia das doenças somáticas, que
inicia em 18 e 19 de maio de 2013.
Ana Carolina Seara**
**Formada há 10 anos em Psicologia (UFSC). Mestre em Psicologia e Gestalt-terapeuta. Faz parte do corpo clínico do Instituto Müller-Granzotto.
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